Aspectos importantes do volumoso para equinos

O volumoso é o alimento mais importante na dieta de um equino, pois é rico em carboidratos estruturais, contendo alta quantidade de fibras. A fibra promove o funcionamento normal do trato digestório e previne distúrbios comportamentais, pois proporciona maior mastigação, o que aumenta a liberação de endorfinas que são responsáveis pela sensação de bem-estar. Cintra (2015) coloca como principais formas de volumosos para equinos: pastagem, feno, silagem, pré-secado e capineira.
Para garantir o fornecimento de produtos de qualidade, além de uma avaliação bromatológica, a observação de alguns aspectos físicos pode ser muito importante na hora de escolher um volumoso para os cavalos.

Pastagem

As condições favoráveis para áreas de pastagem destinadas a equinos referem-se a locais com solos secos e permeáveis, com composição vegetal variada e uma cobertura firme, para que não haja prejuízos com pisoteio em períodos de chuva. Além disso, devem ser escolhidos locais bem arejados, com boa circulação de ar e devidamente cercados (LEWIS, 1985).
O número de animais por hectare depende do tipo de gramínea. Em pastos de Tifton, por exemplo, a lotação anual pode chegar a 3 animais adultos por hectare. Mesmo obedecendo estas recomendações, durante o período seco do ano os animais deverão ser suplementados com feno de boa qualidade (VICTOR et al, 2007).
O pastejo exagerado e a ausência de fertilização, controle de ervas daninhas e insetos pode reduzir a produção de pasto. Cortes de forragem tardios enfraquecem a energia dietética, as proteínas disponíveis e a palatabilidade. O melhor período para pastejo ou corte da forragem corresponde a imediatamente antes da floração, ou seja, no estágio de brotamento, ou na emergência das extremidades. No caso da alfafa, deve ser com 20 cm de altura (LEWIS, 2000).
É necessário que seja implantado na propriedade um sistema de rotação de pastagens, os animais devem trocar de piquete quando o capim pastado atinge uma altura de 10 cm e o descanso deve durar no mínimo 21 dias. A época em que o capim está com a altura de 40 cm corresponde à sua fase mais rica. Ele deve ser igualado quando os animais forem retirados do piquete. Pode-se realizar o roçamento do pasto para evitar áreas desuniformes e a formação de grande concentração de estrumes, os chamados “banheiros”, onde os animais não pastam, diminuindo a área disponível para pastagem. Depois do corte, o solo deve ser adubado, a área deverá descansar por no mínimo 21 dias, aproximadamente. Cada espécie forrageira exige um determinado período de descanso, o que garante a rebrota do capim é a quantidade de folha que foi deixada pelo último pastejo, o tamanho da raiz e o quanto de talos e hastes foram conservados (REIS et al, 2001).

Feno

Domingues (2009) aponta que as características morfológicas ideais de um feno referem-se à existência de talos finos, grande quantidade de folhas, macios ao tato e com coloração verde vivo. A variação da tonalidade está relacionada ao teor de caroteno presente.
Fenos muito secos, excessivamente expostos ao sol ou com cheiro de bolor não são recomendados para o consumo dos animais, bem como empoeirados ou fermentados. É preciso selecionar os que tenham sido cortados com a forrageira ainda não madura, antes do florescimento, uma vez que forrageiras em estágio avançado de maturação diminuem seu valor nutritivo tornando-as de baixa digestibilidade devido ao elevado teor de lignina. Para tanto, deve-se examinar a presença de perfilhos reprodutivos e sementes (HADDAD; DOMINGUES, 1999).
Uma observação cautelosa deve ser realizada buscando a presença de sujidades e materiais estranhos misturados ao conteúdo dos fardos, bem como a presença de plantas invasoras ou tóxicas. Insetos e aranhas também são considerados inadequados, pois são passíveis de contaminações. Fardos excessivamente pesados em relação ao volume podem denotar problemas, não devendo ser adquiridos. A temperatura dos fardos deve ser moderada ao toque com as mãos, não deve estar quente, pois pode indicar umidade excessiva e levar ao aparecimento de fungos (DOMINGUES, 2009).
A presença de alta umidade nos fardos de feno armazenados pode levar à combustão espontânea, este fato pode ocorrer devido à mudança na temperatura determinada pelo balanço de calor, que é decorrente da ocorrência de reações químicas e aumento das taxas de produção de CO2 e O2. Este processo pode ocorrer em duas etapas. A primeira corresponde à absorção de umidade pelo feno seco até a umidade de equilíbrio, a partir daí inicia-se uma produção de calor a taxas elevadas, alcançando uma temperatura média de 97ºC. Em um segundo estágio, com temperaturas médias de 120ºC, essa temperatura para de subir, em função das perdas por evaporação. Apenas após o feno estar suficientemente seco, eleva novamente, alcançando o ponto de ignição. Assim as reações químicas e o aumento de temperatura são controlados pelo teor de umidade e suprimento de ar na massa enfardada (DOMINGUES et al., 2007).
Em propriedades que possuem campos de feno, para melhor aproveitamento devem ser respeitados alguns aspectos. Recomenda-se que seja reservada uma área exclusiva para a produção, devendo fazer o corte quando a planta estiver na sua fase plena de vegetação. Nesse ponto há grande quantidade de folhas o que contribui para a produção de um feno de alta qualidade. Podem ser realizados intervalos de quatro a seis semanas, durante a época onde há grande intensidade de chuvas, com maior crescimento do capim e alta disponibilidade de forragem excedente. A altura do corte deve ficar entre 10 e 15 cm de distância do solo. Recomenda-se cortar a forragem pela manhã, após a evaporação do orvalho. Estes devem ser armazenados em locais frescos e secos, o feno deve ser picado, mas não transformado em pó (PUPO, 1979).
Os fenos não devem ser armazenados por longas datas, devendo haver um controle a fim de evitar diminuição no seu potencial nutricional. Sendo assim, os fardos devem ser armazenados em locais secos, não devem ter contato com o solo e com as paredes do galpão, devendo ser livres da incidência do sol e bem ventilados, de forma a serem retirados com facilidade no momento do uso (HADDAD; DOMINGUES, 1999).

Silagem e pré secado

Para a realização de uma avaliação da qualidade de uma silagem ou pré-secado recomenda-se examiná-los nos aspectos relativos à sua coloração, aroma e consistência, devendo observar, cheirar e apertar a massa presa entre as mãos. Quando bem fermentadas(ácidas) possuem cor verde-amarelada clara ou caqui, cheiro agradável (doce-ácido) ou vinagre; textura firme, com tecidos macios, mas não facilmente destacáveis das fibras, gosto ácido típico, com PH abaixo de 4,5. Em casos de superaquecimento apresenta-se a coloração marrom escura, cheiro leve de açúcar queimado ou de fumo; textura seca e quebradiça; acidez indefinida. Em produtos severamente superaquecidos é possível observar uma cor marrom escura ou preta, cheiro forte de açúcar queimado ou de fumo; textura seca, facilmente desmanchável (DOMINGUES et al., 2007)
A obtenção de silagens de alta qualidade está condicionada a alguns fatores como: forrageira de boa qualidade e bons teores de matéria seca, boa picagem, rápido enchimento, boa compactação e vedação (DOMINGUES et al., 2007)
As silagens não devem conter mofo. Boas condições de umidade, temperatura e armazenamento podem garantir a ausência de fungos que podem causar micotoxicoses nos cavalos. Sua prevenção consiste em impedir o fornecimento de alimentos mofados e realizar a colheita de forragens e grãos na maturidade e umidade corretas, além de armazenamento adequado evitando excesso de umidade e fermentação (REZENDE et al., 2015).

Capineira

A capineira é considerada uma opção na alimentação de equinos, sendo uma prática generalizada em muitas regiões do Brasil. Uma espécie bastante utilizada é o capim elefante, com suas variedades napier, roxa e cameron, chegando a produzir 30 a 35 toneladas de matéria seca por hectare por ano, respeitado boas condições de manejo de corte e fertilidade de solo (CARVALHO, 1992).
Cintra (2015) coloca que é imprescindível respeitar o ponto ideal de corte, que para esse caso deve ser de 1,5 a 2,30 m de altura e o fornecimento deve várias vezes ao dia, diariamente. Matéria orgânica como estercos, resíduos orgânicos, restos de limpezas da cama das baias podem ser depositados na área da capineira como forma de adubo. O capim pode ser fornecido cortado ou picado na picadeira, devendo não exceder 2 horas após o corte para a administração, uma vez que pode ocorrer fermentação excessiva.
Garantir a qualidade do volumoso para cavalos está diretamente relacionado ao bem-estar e saúde digestiva. Portanto, avaliar as características físicas desses produtos e garantir que estejam de acordo com o que é considerado ideal, parece ser um passo importante quando se deseja manter uma alimentação de qualidade e consequentemente cavalos mais saudáveis!

Referências Bibliográficas

CINTRA, 2015.Disponivel em: http://www.abqm.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4636&catid=74&Itemid=477
CARVALHO, R.T.L.; HADDAD, C.M.; DOMINGUES, J.L. Alimentos e alimentação do cavalo. Piracicaba: Losito de Carvalho Consultores Associados, 1992. 130p.
DOMINGUES, J. L. Uso de volumosos conservados na alimentação de equinos. Revista Brasileira de Zootecnia. Viçosa, MG, v.38, p.259-269, 2009.
DOMINGUES, J. L.; HADDAD, C. M ; ALVES, F. V. . Conservação e manejo de volumosos na nutrição de equinos. In: Anais do I Simpósio Mineiro de Equinocultura. 1ed.Lavras: UFLA, 2007, v. 1, p. 13-39.
HADDAD, C.M.; DOMINGUES, J.L. Como avaliar fenos de qualidade. Revista Pecuária de Corte, v.10, n. 90, p.56-60,1999.
LEWIS, L.D. Alimentação e cuidados do cavalo. 1.ed. São Paulo: Ed. Roca, 1985. 248p.
LEWIS, L. D. Nutrição clínica equina: alimentação e cuidados. São Paulo: Roca, 2000. 710 p.
PUPO,N.I.H. Manual de pastagens e forrageiras: formação, conservação, utilização. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1979. 343 p.
REIS,R.A.;MOREIRA,A.L.;PEDREIRA,M.D.S.R. Técnicas para produção e conservação de fenos de forrageiras de alta qualidade – Anais. Simpósio sobre produção e utilização de forrageiras conservadas. Maringá: UEM, 2001, 319
REZENTE, A. S. C.;SILVA, R.H.P.;INÁCIO, D.F.S. Volumosos na alimentação de equídeos. Caderno de Ciências Agrárias, v. 7 n.1, 2015, suplemento 1.
VICTOR, P.R.; ASSEF, C.L; PAULINO, V.T. Forrageiras para equinos, 2007. Disponível em: http://www.iz.sp.gov.br/artigos.php?ano=2007. Acesso em: outubro de 2016.

Regina Lima Costa - Volumoso para equinos
Regina de Lima Costa – Médica Veterinária
CRMV-SP 38636
(MSc. Nutrição Equina).
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